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27 de dezembro de 2012

Solidão


Solidão hoje em dia é palavrão. Desde pequenos essa palavra sempre nos causou algo de medo e dúvida. ¨Estar sozinho?¨ me perguntava quando pequena, ¨como faz?¨ . Pensava na vida sem minha mãe, meu pai ou meus cachorros, sem amigos e sem brincadeiras de pega, sem meu irmão enchendo o saco, sem gritaria em sala de aula, sem ninguém para controlar a quantidade de doce que você comeria. Pensava nessas ideias e era assustador; e de que era a solidão, a responsável pela formação das pessoas más: ladrões, mentirosos, assassinos, etc. Se você fica de castigo, qual a punição? Olha a solidão de novo!

-Vai pro quarto e fica lá!
-Vai lá pro cantinho da sala pensar no que você fez!

E por aí vai...


Quando conhecia um adulto que vivia sozinho imaginava que ele fazia parte do grupo das pessoas mais tristes do mundo. E tinha medo. 



Se formos perceber, quase que a totalidade das opções de lazer é para fazer acompanhado. Sou totalmente contra isso! Vá a um restaurante sozinho e você receberá vários olhares compassivos e curiosos em sua direção. Provavelmente pensarão que você levou um bolo, por isso está só. Vá a um bar sozinho e pensarão que está lá porque levou um chifre. Vá a um cinema e será missão quase impossível encontrar um ser em sua solidão cinematográfica. Primeiro que ao comprar a entrada tentarão marcar para você uma cadeira no lugar mais isolado da sala, fora que, se você quiser um pouco de pipoca, só vem em tamanho balde. Depois vem a parte da volta pra casa com o taxista que querendo puxar papo, pergunta de onde você vem:
-Do cinema moço.
-Mas, sozinha? Uma moça tão bonita...
- ...

Hoje, com 25 anos, com meus pés já na vida adulta, reconheço na solidão algo de belo e grandioso. Desde pequenos já registramos – e somos educados dessa forma – a pensar a solidão como algo ruim, quando na verdade é algo necessário, essencial para se reconhecer enquanto eu. Como indivíduo.

Acho o budismo interessantíssimo. Ela diz que a existência do homem está ligada com a dor, onde sua origem é na falta de conhecimento e desejos materiais. Para se livrar dessa dor, o homem tem oito caminhos: compreensão correta, pensamento correto, palavra, ação, modo de vida, esforço, atenção e meditação. A questão é que atualmente estou tão ocidentalizada e cética em minha maneira de pensar - seria hipócrita dizer que não - que não sei até que ponto conseguiria sustentar essa filosofia. Quem sabe um dia...


Pois bem, a questão no budismo é que a solidão não deve ser evitada, mas compreendida como parte da vida do homem em seu caminho a iluminação.  Sempre senti que os que aprendem a conviver com ela são os espiritualmente mais felizes. E diria que pouquíssimas pessoas saberiam responder a pergunta "quem sou eu", pelo simples fato de que se reconhecem quando sozinhas, de saber-se alguém quando como indivíduo solitário. E tiremos o palavrão da solidão aí, porque quando eu digo ser solitário é dar-se conta da sua existência como uno. Relações fazem parte da vida e são fundamentais, mas ser sozinho é tão essencial quanto. 


Quem me conhece sabe que sou uma mulher romântica ao extremo (a típica libriana chata) idealista sobre as ideias de como o amor deve ser. Uma das coisas nas quais sempre acreditei é que para entendermos o amor, é fundamental entendermos primeiro, a própria solidão, pois entendendo onde começa e termina nosso espaço individual, poderemos entender e respeitar os espaços alheios. Amor e solidão são sentimentos antagônicos e ao mesmo tempo complementários: a diferença essencial é que o primeiro se compartilha. 



Hoje adulta, não tenho mais medo da solidão, mas sim, de perder a capacidade de estar só comigo mesma. 

4 comentários:

Unknown disse...

Que texto bacana, Ana. Curti. Realmente a ideia de solidão é bem ruim. Mas ainda acho que a palavra solidão é má, triste... Porém, concordo com a necessidade de nos aceitarmos e conhecermos mais a si. Porque, realmente, o fato de não sabermos o que queremos de fato prejudica e muito qualquer relação. Se sabemos nos sentir bem sozinho, sabemos ficar bem ao lado de outra pessoa e respeitar os limites dela.

:)

ociosoanônimoautorizado disse...

sentir-se só assuta, mas liberta-dor.

quanto à vigia social, temos que nos preservar desse fenômeno invasivo e incisivo em nossas decisões nos posicionando politicamente diante dos fatos e agindo mesmo com solidão, enaltecendo as diferença para explicitar que essa pasteurização não convém.

ociosoanônimoautorizado disse...

http://www.youtube.com/watch?v=y07vgARrOUE

Anônimo disse...

O amor é o estar só compartilhado. O amor são dois silêncios.