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6 de janeiro de 2008

Teatro sem nome (parte 1)

Peça teatral em fase de criação, baseada no livro de Eclesíastes do Antigo Testamento. Ao longo do blog será postada - em tempos irregulares - a continuação da história. Como cada cena é perfeitamente entendida por si mesma, a separação não prejudica o significado.

Cena I.
No palco uma pequena mesa ao canto, farta de comes e bebes. Entra o Rei.

Rei
(Com tom irritadiço) No fim, tudo fica para os outros que, em geral não fizeram esforço algum! 


Homem 1 e Mulher 1 entram em cena, e, apressadamente, o agarram cada um em cada braço, arrastando o Rei em direção ao público.
Homem 1
Então vamos, vamos! Vou fazer você experimentar a alegria...

Mulher 1
E conhecer o prazer!

Rei
(Arranca os braços de suas mãos, ameaçador) Besteira! Pra que? (sorrindo)

O Rei vai à mesa, onde senta se senta e começa a beber. Em pouco tempo, já se nota em seus traços as conseqüências da bebida em excesso.

Rei
(Bêbado e choroso) E o que fará o rei que virá depois de mim?

Homem 1
O que já foi feito! 

Rei
Besteira! (olha para o copo e sorri)

Homem 1
(Vai até o Rei, e ajoelha-se diante dele) E eu que vou ter o mesmo destino que qualquer insensato! Para que, então, me tornei sábio?

Mulher 1
(Que estava de pé, no outro canto do palco. Está com os braços cruzados) Logo logo vocês se esquecerão de tudo que foi feito. (Anda em direção ao Rei e Homem 1) Afinal, o sábio morre da mesma forma que o insensato.

 
Rei
E por que eu deveria deixar tudo para o homem que virá depois de mim?

Homem 1
(Olha para Mulher 1) E quem sabe se ele será sábio ou insensato!?

Mulher 1
(Indiferença) De qualquer modo o que virá será o dono de tudo mesmo.

A última fala chama a atenção do Rei. Se nota nele um leve desespero. Ele levanta, cambaleia, e sai.

Homem 1
(Olhando para o Rei. Para Mulher 1) O que resta para esse homem?

Mulher 1
Até a noite ele não vai conseguir descansar.

Homem 1 dirigi-se à mesa onde estava o Rei. Senta, e começa a devorar tudo. Parece-lhe faltar educação. Todos o olham com espanto cochichando entre eles, apontando-o.

 
Mulher 1
Vejam só... Parece então que a verdadeira felicidade do homem está em comer e beber! 

Homem 1 continua a comer, nunca parecendo estar satisfeito, estampa uma felicidade que irrita os outros. 
Entra Homem 2

Homem 2
De fato, quem poderia comer e beber, sem que isso lhe venha de Deus?

Homem 1
(Com a boca cheia de comida e em tom irritadiço) A quem lhe agrade!
Homem 2 calmamente, e começa a olhar para os atores, como se estivesse buscando algo. Pára, olhando para Homem 1, curioso.


Homem 2
Onde está o justo? 

Homem 1
(Sequer vira o rosto para falar-lhe) Cada coisa a seu tempo!

Homem 2 segue buscando com o olhar, dessa vez na platéia. Pára em Homem 1, ri um riso pequeno.
Homem 2
(Rindo) Mais feliz que esse só quem ainda não nasceu!

Luzes vão ficando fracas. De repente, Mulher 1 e Homem 2 vão em direção ao Homem 1, com cara de famintos. Agarram-no e tentam arrancá-lo da mesa. Homem 1 se defende, se debate. Mas todo seu esforço parece inútil.

Luzes de apagam. Segue um som de briga, gritos e coisas sendo quebradas.

Um comentário:

MeaCulpa disse...

lidos e - deveras - apreciados
muito bacana o teatro
=]~